domingo, 15 de março de 2009

Paradoxos da Vida Urbana


A análise atual da estrutura da sociedade, que embasada nas grandes cidades
distancia as pessoas do natural, poderia parecer bucólico, enfadonho. Mas ouso discordar.
Nasci em um sitio localizado em um pequena cidade em Minas Gerais. Em uma família rigidamente estruturada no catolicismo, nos laços consangüíneos, e na agricultura, onde todos viviam em sua pseudo-tranqüilidade.
Gerações se sucederam, até que o progresso alcançou também aqueles prados distantes. A então conhecida organização social começou a mudar. Valores defendidos por séculos foram sendo substituídos paulatinamente por bens de consumo. A tranqüilidade do campo foi substituída pela agitação das cidades. O tempo que corria manso como um rio, no respeito ao Sol e à Lua, passou a correr por entre os dedos e localizado no relógio escravizante. Mudaram-se hábitos alimentares, roupas, costumes, linguagem.
Melhoramos ou pioramos?
As mudanças chegaram sem pedir licença. Não consultaram ninguém, foram se hospedando, e pressionando para tornarem-se permanentes, até que conseguiram. Não houve opção. Poderíamos dizer que eram inevitáveis? Se quiséssemos, resistiríamos a elas?
O certo é que o Ser Humano mudou.
Certamente haverá aqueles que, saudosos dirão que degeneramos. Será mesmo? Como estava embasada aquela sociedade rural? Famílias, agricultura e Igreja. Família patriarcal, a mulher calada criava seus filhos, filhos calados obedeciam a seus pais, e mantinham a honra da família, às vezes com seu próprio sangue, em lutas por vezes seculares entre clãs. Agricultura colonial, ou de subsistência. Ou se nascia rico, filho da Aristocracia local, ou pequeno agricultor, sujeito à obediência ao senhor local, que detinha o poder. Fome, ignorância, e falta de dignidade eram os pagamentos recebidos após uma vida inteira de trabalho. E a Igreja, mãe de todos, detinha o papel de apascentar aqueles que poderiam se rebelar contra isso tudo.
Por algum motivo, esta ordem social tinha seus dias contados. Talvez, por Ordem Superior, esta ordem social deveria mudar. Direitos, deveres, liberdade (religiosa, política...), educação, saúde. Tudo deveria mudar. E para mudar, primeiro piora-se. Não é verdade que, quando queremos limpar a casa, primeiro devemos colocar tudo para cima, limpar, e depois arrumar?
Acredito que ocorre o mesmo agora com a organização social. Foi necessário desfazer-se de todos os valores arraigados, negá-los, repudiá-los, rejeitá-los. Buscar outras formas de viver. Vivê-las. E agora, anos após todas as mudanças (limpeza), recolocar no local aquelas coisas que valiam a pena. E para isso, há um balanço inevitável. Daquilo que negamos, o que realmente perdemos de verdade? O que realmente era bom? O que devemos resgatar?
E será que tudo que renovamos foi bom? O que ainda merece ser mantido?

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