sexta-feira, 6 de maio de 2011

Escolas brasileiras criam e perpetuam preconceitos e discriminações contra minorias, avaliam especialistas

Gilberto Costa

Da Agência Brasil
Em Brasília
O ambiente escolar é um espaço para o surgimento de atitudes sexistas e homofóbicas. 
Esta é uma das conclusões tiradas da audiência pública sobre preconceitos e 
discriminações na educação brasileira, realizada hoje (4) na Comissão de Educação e 
Cultura da Câmara dos Deputados.

“Além de reproduzir a escola cria homofobia”, disse a coordenadora do Projeto Escola 
sem Homofobia, da organização não governamental (ONG) Ecos - Comunicação em 
Sexualidade, Maria Helena Franco. “Não é mais adiante, mas é ali que esta se criando 
o preconceito”, completou.

Na opinião de Helena Franco, os professores brasileiros não são preparados para lidar 
com o tema em sala de aula e não dispõem de material didático que possa auxiliá-los. 
“Material sobre a temática praticamente não existe”, disse após apresentar aos 
parlamentares um kit com livro, vídeos, boletins e cartaz que podem ser usados 
na escola em apoio à implantação do chamado “projeto político pedagógico”, que 
orienta o ensino.

O material elaborado pela ONG está em análise na Secretaria de Educação Continuada, 
Alfabetização e Diversidade – Secad, do Ministério da Educação (MEC), para ser 
replicado e incluído na grade de distribuição de material educativo do MEC. 
Segundo Helena Franco, o ministério já recebeu cerca de 1.500 pedidos do material 
que não está disponível na internet. A princípio, o material será distribuído a 
docentes do ensino médio, “mas pode ser usado por professores do ensino 
fundamental”, disse.

Situações de homofobia são verificadas, por exemplo, em situações de 
constrangimento, o bullying, que pode causar danos morais a quem sofre com 
comportamentos agressivos (físico ou verbal) recorrentes.

Uma pesquisa de 2009, apresentada pela ONG Plan Brasil, e publicada pelo 
Ministério Público do Maranhão, feita com 5.168 alunos de 25 escolas públicas 
e particulares de todas as regiões brasileiras, mostrou que sete em cada dez 
estudantes de diversas faixas etárias presenciaram cenas de agressões entre colegas. 
As principais vítimas são os meninos: 34,5% disseram ser vítimas de maus tratos.

A situação dos meninos na escola começa a preocupar também pela questão de 
gênero, tradicionalmente associada à discriminação contra as mulheres. A pesquisadora 
Denise Carreira, da ONG Ação Educativa salienta que os meninos, especialmente 
os meninos negros, abandonam a escola mais que as meninas.

Apesar desse dado e do fato das mulheres já terem em média maior escolaridade que o 
homem, o mercado de trabalho é menos favorável a elas que recebem salários menores. 
Para Denise Carreira, isso tem a ver com as vocações que são estimuladas desde a 
escola e as carreiras as quais acabam se dedicando.

“A educação sexista define que as mulheres são boas para isso, e não são boas para aquilo”, 
afirmou ao lembrar que o mal desempenho em ciências e matemática tem a ver com a falta 
de estímulo para que, no futuro, ocupem áreas de exatas. “Ainda hoje temos profissões ditas 
masculinas e profissões ditas femininas”, como as áreas sociais e de cuidados (professoras, 
assistentes sociais, saúde), com baixa remuneração. “É fundamental questionar a 
educação que estabelece papéis para homens e mulheres”, recomendou.

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