sábado, 2 de julho de 2011

Novo olhar sobre a África Antiga

     O verdadeiro pai da medicina, segundo o Dicionário da Antiguidade Africana (Record, 350 páginas), não foi o grego Hipócrates e, sim, o sacerdote egípcio Imhotep, que viveu dois mil anos antes de Homero. Essa e outras curiosidades compõem a nova obra monumental do escritor e compositor carioca Nei Lopes, autor de outros dicionários e enciclopédias, todos voltados para o estudo da Cultura Africana e Afro-brasileira.

     Neste livro, Nei desvenda a África abarcando ciências como antropologia, geografia e filosofia. O autor destaca a anterioridade das civilizações africanas sobre as greco-latinas e revela fatos novos como contatos de sociedades africanas com japonesas e chinesas. Leia abaixo cinco perguntas feitas ao poeta, compositor e ensaísta. 



Por que a forma de dicionário para trabalhar a Antiguidade da África? 
Desde 1988, quando publiquei o Dicionário Banto do Brasil, venho me dedicando a esse tipo de produção e criação. Eu e minha equipe, isto é, eu e mim mesmo. Tenho inclusive uma Enciclopédia da Diáspora Africana, um volume de 747 páginas, já na quarta edição. Acho que o dicionário é a forma de publicação didática por excelência, desde que bem amarradas as remissões aos verbetes principais. Não conheço ninguém que não goste de ler dicionário. E que não se deixe viajar de um verbete pro outro, puxado pela curiosidade. 
Até certo tempo, as pesquisas acadêmicas sobre a África eram realizadas sob uma ótica estrangeira. Como estudos feitos por africanos e descendentes podem enriquecer nosso conhecimento sobre o continente? 
Nós, afrodescendentes e africanos, somos os melhores intérpretes da nossa História e do nosso cotidiano, seja ele bom ou mau. Já não somos mais objetos de Ciência; os cientistas (mesmo os não acadêmicos e apaixonados como eu) agora somos nós, também. 
Dicionário da Antiguidade Africana traz informações ainda não trabalhadas pelos historiadores brasileiros. Como eram os contatos das diversas sociedades africanas entre si? 
Havia os caminhos de comércio e circulação de cultura, os naturais e os construídos. O verbete Rotas de Comércio mostra isso. E os vários mapas presentes no livro ilustram. 
Qual era a importância da África nas redes de comércio da Antiguidade? 
É só lembrar o Egito faraônico e considerar que ele foi um dos principais centros difusores de conhecimento dos tempos antigos, da África para a Europa e a Ásia. É só pensar nas civilizações da Núbia, ao Sul do Egito, com pirâmides e monumentos ainda visíveis. Na Etiópia, nos primeiros tempos do cristianismo. No cativeiro dos hebreus no Egito... 
Homero, o poeta grego, admirava a medicina egípcia. Qual era o grau de desenvolvimento dessa ciência? 
Os gregos se apropriaram de muitos conhecimentos dos sábios egípcios, inclusive no ramo da Medicina. O próprio pai da medicina, segundo o nosso dicionário, citando modernas fontes históricas afrocentradas, não foi Hipócrates e, sim, Imhotep, que viveu dois mil anos antes de Homero. Os egípcios eram detentores de conhecimentos que muitos médicos de hoje não têm. 


Por Rodrigo Canuto

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