sábado, 19 de maio de 2012

A ESTRUTURA DINÂMICA DO I CHING



Alayde Mutzenbecher
Entre todos os aspectos possíveis de abordagem do I CHING, a perfeição da sua estrutura interna talvez seja o fator menos conhecido. No Ocidente, é quase desconhecida essa rede de comunicações pulsante que se reparte de modo magistral como uma rosa de ventos, pelas oito direções do espaço.
Pois a construção primordial do I CHING mostra o posicionamento dos oito trigramas que compoem o Bagua, de modo extremamente inteligente, claro e efetivo. A repercussão dessa dinâmica energética atua nos espaços habitados pelo homem através da arte do Feng Shui, assim como no corpo humano, através da Medicina Tradicional Chinesa, e também nos movimentos harmoniosos e efetivos ensinados nas melhores escolas das Artes Marciais.
O entrelaçar das oito forças primordiais que constituem cada um dos 64 hexagramas implicam conotações de uma abrangência insuspeita, abrindo novos caminhos para o estudo da energia contida no Livro das Mutações. Esta estrutura portadora de CHI distribui as energias e as disseminam no espaço, incluindo partes visíveis e partes subjacentes que não são detectadas pela maioria das pessoas. Por isso, as melhores escolas de Feng Shui e de Acupuntura do Oriente não aceitam discípulos que não tenham um bom conhecimento do I Ching.
Sobre esta construção energética impressionante foram escritos livros inteiros. Porém, aqui evocamos apenas alguns dos seus aspectos básicos.
As duas energias iniciais, – o Puro Yang ou Criativo, representadas pelo hexagrama número 1, e o Puro Yin ou Receptivo, simbolizado pelo hexagrama número 2 – formam o par que, interligado em suas várias manifestações e múltiplas facetas, gera todas as outras energias.
As duas dinâmicas que terminam a primeira parte do Livro das Mutações, – a dupla Água e o duplo Fogo – encerram as primeiras trinta etapas de aprendizagem energética. Assim como o par de energias inaugurais, são opostas E complementares entre si. É a mesmo entrelaçar de Água e Fogo que também termina o Livro das Mutações, na Completude retratada no hexagrama número 63 (Após a Conclusão) e na Incompletude aparente no hexagrama número 64. Em ambos os casos, Água e Fogo voltam a interagir entre si, porém, agora de modo diferente, abraçados.
Essas quatro energias primordiais – Céu e Terra, Água e Fogo – são também as que formam o eixo vertical nas duas Ordens dos Céus. Na Ordem do Céu Anterior, estas quatro dinâmicas constituem os dois eixos – o vertical e o horizontal -, cada qual apontando para uma direção cardeal – norte, sul, leste e oeste. E na Ordem do Céu Posterior, o eixo vertical é ocupado pelo Fogo (acima) e pela Água (abaixo).
A dinâmica que move este surpreendente caleidoscópio que é o I CHING ou Clássico das Mutações, onde todas as energias estão sempre a girar como numa surpreendente roda gigante, desdobram-se em metamorfoses constantes que constituem o próprio da vida. Todos os seres são movidos por essas forças impalpáveis, a cada instante.
Neste vai-vem que se exaure ao se exprimir ou, que ao expressar-se, se exaure, a energia é esteira do espaço, é fibra do estofo do tempo. O verdadeiro tempo no pensamento chinês surge no instante exato em que as espirais do CHI impregnadas de forças invisíveis e impalpáveis se entrelaçam, tecendo a vida a partir do eixo central de cada ser. E este Vazio, este “nada-tudo” que clama, age o tempo todo, ao centro de todas as nossas trajetórias.
A estrutura interna das seis linhas de cada hexagrama também se entrelaça e aponta significados: podemos atribuir às duas primeiras linhas de cada hexagrama à função Terra, e as duas últimas linhas – a quinta e a sexta -, à função Celeste. E as duas linhas do meio de cada hexagrama – a terceira e a quarta – se referem à função humana. O homem seria então, e por definição, aquele que caminha entre Céu e Terra. E o “homem superior”, ou seja, a parcela mais inteligente, mais lúcida e generosa de cada ser humano é aquela que sabe harmonizar com equilíbrio e desenvoltura, as energias que o envolvem, – as concretudes da realidade terrestre com os impulsos criativos invisíveis procedentes do âmbito celeste.

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