quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Stela Guedes Caputo - Iniciação

Stela Guedes Caputo Loguncy
Eu não tenho leucemia. Não peguei piolho. Não passei um produto na cabeça que fez meu cabelo cair. Fui raspada. Eu me iniciei no candomblé por escolha e por amor depois de uma vida dedicada à pesquisa de suas crianças. "Amada no amado transformada", sou candomblecista. Filha, com o coração transbordado em honras, de Daniel ty Yemonjá, do Ilè Asé Omi Laare Ìyá Sagbá, em Santa Cruz da Serra, Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Durante mais de 20 anos ouvi essas respostas de crianças e jovens candomblecistas que, ao serem perguntadas do porquê rasparam a cabeça, inventavam e inventam maneiras de menos sofrer. Muitos adultos também precisam ocultar seu amor para permanecerem em empregos ou conquistarem um. Para serem aceitos, às vezes, em sua própria família e até por "amigos". Não significa que sejam pessoas fracas, gostem menos dos Orixás, ou de seus terreiros. O problema não está nelas. O problema está nessa sociedade racista, hipócrita, preconceituosa e nada nada laica. Sonho com um mundo em que um dia todos possam viver e publicizar seu amor, seus modos de acreditar ou não acreditar, seus modos de ser. Sonho e luto por uma sociedade de verdade laica. Por uma escola pública laica e sem Ensino Religioso que aumenta, todos os dias, a discriminação de nossas crianças e jovens de terreiros. (Stela Guedes Caputo - Dofonitinha de Lógunède - professora do Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPED/UERJ).Foto: Flávio Mota.


Um comentário:

Unknown disse...

Adoro a escrita de Caputto, principalmente por tratar de uma temática tão sensível e pertinente, o respeito com as diferenças. Kolofé.

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